Para pensar

A alienação de que fala Marx é conseqüência do afastamento entre os interesses do trabalhador e aquilo que ele produz. De modo mais amplo, trata-se também do abismo entre o que se aprende apenas para cumprir uma função no sistema de produção e uma formação que realmente ajude o ser humano a exercer suas potencialidades. Você já pensou se a educação, como é praticada a seu redor, procura dar condições ao aluno para que se desenvolva por inteiro ou se responde apenas a objetivos limitados pelas circunstâncias?

terça-feira, 13 de novembro de 2012

QUAL O PAPEL DO EDUCADOR, QUANDO PARA O ALUNO É DIFÍCIL APRENDER?



Um dos problemas que mais está ocorrendo atualmente está relacionado às dificuldades de aprendizagem. Professores se deparam com crianças e jovens que não estão atingindo os objetivos propostos. Estão com dificuldades em aprender, por mais que os métodos sejam diferenciados.
Os pais, quando comunicados, iniciam a busca por psicólogos, psicopedagogos, neurologistas, pedagogos na tentativa de salvar o ano letivo. Pais que oferecem “tudo” para o filho, uma escola particular, aulas de inglês, natação, academia de ginástica, aquele tênis da moda, celular, MP3 e por aí vai.
Como entender então as notas baixas?
Precisamos então refletir na palavra “tudo”. Será que o que estamos dando é o “tudo” que de fato nosso filho quer de nós?
Aí vem aquela famosa desculpa: “mas eu trabalho tanto para dar o melhor, não tenho muito tempo disponível”. Entra aí a qualidade e não a quantidade. Orientar os pais a respeito da parceria que deve existir entre escola e família. Quando ela ocorre, muitas das dificuldades são descobertas no início, pois ninguém melhor do que o professor para auxiliar os pais nesta missão.
Confie nos professores que estão com seu filho, afinal, eles passam muito tempo com ele. Pergunte, esclareça suas dúvidas, questione a melhor maneira de estar auxiliando seu filho nas tarefas. E quanto ao seu filho, saiba quem são seus melhores amigos, como foi à escola, se está precisando de ajuda em alguma coisa. Você vai se surpreender com os resultados dos próximos boletins.

Ao se pensar num planejamento por competências faz-se necessário:



 1. Esclarecer e estabelecer um conceito claro e consensual de competências com os professores;
2. Refletir como e de que forma os alunos desenvolvem suas competências;
3. Decidir coletivamente os fins educativos da escola e qual o perfil de cidadão se quer formar. Definir, portanto:
 O que significa preparar para a cidadania e o trabalho aqueles alunos naquela comunidade;
 Quais as competências que traduzem essa preparação para a cidadania e o trabalho;
 Quais os conteúdos curriculares que deverão contribuir para a constituição dessas competências.
4. Partir sempre das competências para selecionar o conteúdo curricular. Uma mesma competência pode estar ancorada em vários conteúdos, é o caso de “ler e interpretar tabelas e gráficos” que poderá ser desenvolvido em geografia, matemática, ciências.
5. Definir o tipo de organização curricular, podendo se optar:
- Por um bloco de competências comuns (as chamadas competências transversais), as quais teriam a função de integrar as disciplinas ou as diferentes áreas.
-Por tema ou por projetos integrando disciplinas ou áreas do conhecimento.
6. Ter em mente que não importa o tipo de organização curricular que se opte, o tratamento metodológico empregado, contextualizando e interligando o conhecimento é que propiciará o desenvolvimento de competências.
7. Lembrar que para desenvolver competências é preciso trabalhar por problemas e por projetos, propor tarefas que desafiem e motivem os alunos a mobilizar os conhecimentos que já possuem e a ir à busca de novos conhecimentos. Competências se desenvolvem sempre em “situação”, em um contexto. Trata-se segundo Philippe Meirieu (1996) “aprender, fazendo, o que não se sabe fazer”.
Pressupõe uma pedagogia dinâmica que transforme a sala de aula num espaço privilegiado de aprendizagens vivas e enriquecedoras na qual o aluno participa ativamente na construção do seu conhecimento. O conteúdo é um meio e não mais um fim em si mesmo.
Pressupõe um currículo integrado e não mais fragmentado, norteado pelos princípios pedagógicos da transposição didática, interdisciplinaridade e contextualização.
Da Estima à Autoestima na Educação e Aprendizagem. Ainda que a autoestima comece no âmbito familiar, produto da relação da criança com seus pais ou responsáveis -e ainda antes do nascimento, na mente dos pais- essa continua no âmbito escolar, na relação com o docente e o grupo de colegas.
Este processo não é linear, onde um dá e o outro recebe; surge da interação entre ambos. Quando o aluno é aceito e compreendido, devolve o mesmo sentimento para o professor, que também se sente reconhecido, valorizado. Assim se gera um círculo de bem estar, onde a tarefa é gratificante para ambos e o clima é propício para o desenvolvimento das potencialidades. Quem se sente amado pode aceitar-se, adquirir o senso do seu próprio valor, descobrir e realizar o potencial para o qual está dotado. O amor no âmbito educativo, na classe, torna possível captar de cada um o mais profundo, a sua verdadeira essência. Através do amor é possível vislumbrar o potencial, o que ainda não foi revelado e o que será exibido. Descobrir os talentos possibilita a quem é amado a descoberta, o fazer-se conhecer.
Muito já foi dito a respeito da estima do aluno e isso sem dúvida é importante. E quem cuida dos educadores? Eles também precisam ser amados pelo aluno e reconhecidos socialmente pelo prestígio do seu trabalho. Às vezes, quando o aluno não aprende, o docente pode considerar-se incompetente, se atribui este fracasso apenas ao seu próprio trabalho. Ao não sentir-se reconhecido, pode retrair-se, desconectar-se afetivamente e inibir sua criatividade para buscar novas alternativas, piorando assim a relação. Ele não é o responsável absoluto, ambos são protagonistas.
A confiança, a segurança, o senso do próprio valor, se aprende mais pela presença do que pela docência. É importante que os mesmos educadores tenham uma autoconfiança realista, pois acima de tudo, se transmite mais pelo que se é, pelo que se vive do que pelo que se diz. São símbolos da autoestima: - Usar os talentos e as aptidões para amar e estudar.
-Ter um grau mínimo de auto-aceitação e de orgulho próprio.
-Ter autoconfiança realista.
-Reconhecer as necessidades e valorizar as vitórias.
-Fazer valer os direitos e aceitar suas limitações.
-Ser autêntico. - Não esconder-se nem mostrar-se com exagero.
-Ter ideais de acordo com as possibilidades de sucesso.
-Ter desejos e projetos pessoais.
-Relacionar-se livremente com os outros, com autonomia e independência.
Como se manifesta a baixa autoestima:
Geralmente está associada a pessoas envergonhadas, inibidas, temerosas, que não se animam a competir nem a destacar-se. Ainda são símbolos de baixa autoestima, certas atitudes que aparentemente revelam o contrário: como querer chamar sempre a atenção, tentado ser o centro, sentir a necessidade de ganhar todo o tempo, ainda que valendo-se de trapaças, exibir um perfeccionismo exagerado ou depender da aprovação externa. O que uma criança precisa para desenvolver a autoestima.
A criança precisa:
a) Educadores e companheiros que a aceitem como ela é, que a aprovem e aceitem, para que ela possa descobrir-se e desenvolver-se em sua plenitude. Estas atitudes nutritivas e positivas, geradoras de experiências de satisfação precisam também de limites, frustrações adequadas a cada momento do desenvolvimento, que permitam à criança interiorizar as funções que antes eram realizadas pelos educadores.
b) Docentes que ofereçam segurança, apoio, sustentação e que sirvam de modelo, fonte de força, da qual possa participar. A idealização dos professores é necessária em um determinado momento; porém, logo é preciso romper com esta idealização, para facilitar o acesso às crianças; ao serem humanizadas, valorizadas de uma maneira mais realista, as crianças sabem que não podem nem possuem tudo. Da autoafirmação surgirão as ambições de uma pessoa e da admiração, os ideais. A vivência dos próprios talentos e habilidades é o que torna possível que as ambições se unam a ideais realistas.
c) Sentir-se um entre seus pares, membro de um mesmo grupo. Do que depende um maior ou menor grau de autoestima. O grau de autoestima depende da capacidade de sustentar a distância entre o ideal de si mesmo e a realidade, do descobrimento dos dons e da aceitação das limitações. Os sentimentos de auto-satisfação surgem quando existe uma relação fluída entre o que se almeja como ideal e o que se é na realidade.
Também depende do perfeito equilíbrio entre talentos, ambições e ideais. Autoestima e ideais: Se os ideais são razoáveis, uma pessoa é capaz de trabalhar eficientemente para alcançá-los; disto surgem sentimentos de satisfação para consigo mesmo pela tarefa realizada e pelo objetivo alcançado. Se os ideais são por demais elevados, de tal maneira que não existe a possibilidade de alcançá-los de forma eficiente, surgem sentimentos de inferioridade e ineficácia.
Quanto menor for a brecha entre o ideal e a possibilidade de alcançá-lo, menor será a ansiedade, maior será a autoestima.
É humano experimentar sentimentos de insatisfação e de inferioridade; ninguém tem a possibilidade de alcançar todos os ideais. Sempre há um resquício de insatisfação que funciona como força motriz, que gera uma tensão constante, dando lugar ao progresso que abre espaço para cada qual buscar, por si mesmo, a maneira de realizar-se, livre e criativamente, integrando a força de seus desejos com as possibilidades que o mundo externo oferece.
Algumas sugestões para enriquecer a autoestima:
Ser bons modelos, com boa autoestima, alegres e entusiastas.
Valorizar os aspectos positivos, dizer o bom e óbvio, não repreender sempre.
Lembrar que cada qual é único, e assim, descobrir e fazer saber o que lhe agrada.
Estimular a autoconfiança, que faça o que é capaz de fazer, com experiências de sucesso. Não fazer em seu lugar nem superproteger: deixar espaço para escolhas.
Estabelecer metas de acordo com suas possibilidades, sem exigir mais do que é possível. Escutar e aceitar os sentimentos, mesmo que negativos, as limitações, bem como as ações derivadas destes sentimentos.

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

PROCESSO DE ENSINO- APRENDIZAGEM E SUAS IMPLICAÇÕES COM O ATO EDUCATIVO

Quando se fala ensino-aprendizagem, se expressa um processo, que está intimamente vinculado ao ato de ensinar e ao ato de aprender. De um lado quem ensina, do outro quem aprende. Vários teóricos estudaram e ainda estudam os processos, que caracterizam o ensino-aprendizagem. Escreveram livros e mais livros tentando explicar este fenômeno, sempre procurando descortinar novas teorias e novos caminhos para melhor compreendê-lo.
        Pode-se questionar. O que é ensinar? O que é aprender? Neste contexto não se pretende esgotar tal fenômeno, porém suscitar curiosidades, questionamentos em torno do assunto. Gostaria, todavia de explicitar o pensamento de maneira sintética sobre o tema. Ensinar compreende-se como o processo vivenciado por um professor, aquele que domina com a sua experiência - teórica e prática, uma determinada área do conhecimento e tem toda responsabilidade de motivar e incentivar e incentivar o processo de aprendizagem. Aprender entende-se que é processo pelo qual o indivíduo aprende e apreende um conhecimento ou uma habilidade. Considera-se, ainda, neste processo a base psicológica e biológica, onde  ele assenta-se. O sujeito durante o ciclo vital tem o momento psicológico e biológico, que lhe torna ou faz capaz de condicioná-lo a um determinado nível de aprendizado.
        Os professores devem estar atentos para o processo ensino-aprendizagem colocando-se no seu contexto como um sujeito catalisador da reação do desenvolvimento do ensino-aprendizagem. Este processo pedagógico, não ocorre isoladamente, contempla dimensões: sócio-políticos, humanas e técnicas, que extrapolam o seu próprio âmbito, uma vez que, não se limita apenas, aquele momento exclusivamente ocorrido em sala de aula, entre professor e aluno. Vai muito além desta relação, alcançando e fazendo presente a ele, a realidade social histórica, concreta e localizada dos sujeitos envolvidos na ação pedagógica,que se pretende realizar.
Os estudiosos da educação costumam separar, como se observa, o professor com suas funções, do aluno, aprendiz, com suas tarefas e obrigações, como se eles fossem distintos ou diferentes e não pertencessem ao mesmo momento pedagógico; todavia se constata na prática, que não existe esta dicotomia, mas sim, uma ação única integrada, holística, onde não há divisas de partes e seguimentos isolados, porém a síntese de um processo ensino aprendizagem globalizante.
        Portanto, o processo ensino aprendizagem diante desta visão aqui exposta, apresenta três dimensões bem nítidas: Social-Política, Humana e Técnica. Cada uma desta dimensão não está compartimentalizada uma da outra, porém numa constante interação, participando do mesmo fenômeno, coexistindo no mesmo momento. A postura docente, o como ensinar, o como o professor relacionar-se pedagogicamente com seus alunos, são nestes comportamentos adotados e transparentes onde estão entrelaçadas todas as dimensões do processo ensino aprendizagem, quando se pode identificar claramente, em que tendência pedagógica encontra-se o professor inserido. Diversos estudiosos da educação, através da história e hoje, procuram com suas teorias cada vez mais, identificarem as ações e posturas pedagógicas dos professores no cotidiano de sala de aula e de acordo com a ideologia predominante no processo ensino aprendizagem, desenvolvido por eles, caracterizam-no pedagogicamente, de liberal ou progressista.
        Feita esta alusão sobre o processo ensino aprendizagem, indaga-se: O que seria o ato educativo neste contexto? Esta resposta daria livros e mais livros, pois o ato educativo não se relaciona  somente  ao processo ensino aprendizagem em si, realizado comumente pelas instituições de ensino, mas ultrapassa as fronteiras do formal de sala de aula e de suas quatro paredes, indo interferir na realidade social, concreta e contextualizada dos sujeitos, participantes dele.
        Dermeval Saviani, nos diz que no ato educativo seus sujeitos sociais, professor, aluno e sociedade participam dele, cada um assumindo um papel relevante, sem que seja possível verificar onde termina e enceta-se a ação do outro. Para melhor compreensão didática, se escreve separadamente. Vejamos: Professor, no ato educativo será aquele que detém mais experiência para iniciar o processo pedagógico como também é capaz de aliar a sua prática social a prática pedagógica. O aluno é aquele que no início do ato educativo detém menor experiência, porém terá potencial para alcançar o professor e até superá-lo. A sociedade é o "locus" em que acontece todas as relações sociais e deverá ocorrer a verdadeira intervenção provocada pelo processo educativo.
        O ato educativo, conforme Saviani, possui cinco (5) passos. São eles: O primeiro será a PRÁTICA SOCIAL, onde se inicia o ato educativo e sujeitos sociais estabelecem suas relações. Os sujeitos refletem sua maneira de sentir, pensar e agir na sociedade de acordo com as relações sociais que estabelecem e ainda, conforme se inserem no modo de produção desta sociedade a que pertencem. Isto determina sua maneira de interferir sobre sua realidade. O segundo passo é chamado de PROBLEMATIZAÇÃO, aqui os sujeitos tomam consciência dos problemas existentes, verificam as carências e as prioridades a serem estabelecidas. Descortinam sua realidade. O terceiro passo é INSTRUMENTALIZAÇÃO, de posse do conhecimento da realidade percebe-se que tipos de conteúdos, métodos e técnicas dominar para, interferir na problemática da realidade levantada. O quarto momento é denominado de CATARSE. È a culminância do ato educativo, ele ocorre, quando os sujeitos envolvidos no processo educativo conseguem através daquela apropriação do saber aprendido e apreendido no processo, interferir e multiplicar o ato educativo em sua realidade transformando-a. O quinto momento é a PRÁTICA SOCIAL,  o que foi o ponto de partida terá  que ser o ponto de chegada, todavia a prática, aqui descrita  não é a prática pela prática, mas sim a prática enquanto "PRAXIS", portanto a realidade dos sujeitos sociais  do ato educativo não é mais a mesma, porque há, no concreto, uma transformação social nas relações, que os sujeitos estabelecem no seu meio, conseguindo modificà-lo.
        Concluindo, constata-se, pelo que foi dito, que nem todo processo de ensino aprendizagem  constitui-se em um pleno e verdadeiro ato educativo. O processo de ensino-aprendizagem pode converter-se em um mero instrumento de acomodação do sujeito que aprende, ao seu ambiente social, político e técnico, sem, no entanto intervir na realidade contextual existente. O ato educativo, como preconiza Dermeval Saviani, ao qual pensamento concorda-se e acosta-se o nosso, ao contrário, leva necessariamente a uma transformação das relações sociais dos sujeitos participantes do ato educativo, pela interferência que seus reflexos provocam em uma sociedade. Nesta compreensão, o ato educativo, tem sua ótica não só voltada para a formação, mas, sobretudo também, intenciona construir o homem integral radical.           
                                       BIBLIOGRAFIA

LIBANÊO, José Carlos. Democratização da Escola Pública. A pedagogia crético-social dos conteúdos
São Paulo - Brasil: Ed. Loyola. 2005.
SAVIANI, Dermeval. Escola e Democracia. Col. Polêmicas do Nosso Tempo. 2ª ed. São Paulo-2000
KUETHE, James L. O Processo Ensino Aprendizagem. Porto Alegre: Ed. Globo, 2000.

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Ser professor: uma escolha de poucos



Nos últimos anos, tornou-se comum a noção de que cada vez menos jovens querem ser professores. Faltava dimensionar com mais clareza a extensão do problema. Um estudo encomendado pela Fundação Victor Civita (FVC) à Fundação Carlos Chagas (FCC) traz dados concretos e preocupantes: apenas 2% dos estudantes do Ensino Médio têm como primeira opção no vestibular graduações diretamente relacionadas à atuação em sala de aula - Pedagogia ou alguma licenciatura (leia o gráfico abaixo).
Uma profissão desvalorizada
Só 2% dos entrevistados pretendem cursar Pedagogia ou alguma Licenciatura, carreiras pouco cobiçadas por alunos das redes pública e particular










  


Fonte: Pesquisa Atratividade da Carreira Docente no Brasil (FVC/FCC)
A pesquisa, que ouviu 1.501 alunos de 3º ano em 18 escolas públicas e privadas de oito cidades, tem patrocínio da Abril Educação, do Instituto Unibanco e do Itaú BBA e contou ainda com grupos de discussão para entender as razões da baixa atratividade da carreira docente. Apesar de reconhecerem a importância do professor, os jovens pesquisados afirmam que a profissão é desvalorizada socialmente, mal remunerada e com rotina desgastante (leia as frases em destaque)
"Se por acaso você comenta com alguém que vai ser professor, muitas vezes
a pessoa diz algo do tipo: 'Que pena, meus pêsames!'"
Thaís*, aluna de escola particular em Manaus, AM
"Se eu quisesse ser professor, minha família não ia aceitar, pois investiu em mim. É uma profissão que não dá futuro."
André*, aluno de escola particular em Campo Grande, MS
* Os nomes dos alunos entrevistados foram alterados para preservar a confidencialidade da pesquisa.
O Brasil já experimenta as consequências do baixo interesse pela docência. Segundo estimativa do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), apenas no Ensino Médio e nas séries finais do Ensino Fundamental o déficit de professores com formação adequada à área que lecionam chega a 710 mil (leia o gráfico ao lado). E não se trata de falta de vagas. "A queda de procura tem sido imensa. Entre 2001 e 2006, houve o crescimento de 65% no número de cursos de licenciatura. As matrículas, porém, se expandiram apenas 39%", afirma Bernardete Gatti, pesquisadora da Fundação Carlos Chagas e supervisora do estudo. De acordo com dados do Censo da Educação Superior de 2009, o índice de vagas ociosas chega a 55% do total oferecido em cursos de Pedagogia e de formação de professores.
Faltam bons candidatos
A baixa procura contrasta com a falta de docentes com formação adequada 
Fontes: Inep e Censo da Educação Superior (2004 e 2008)
Um terço dos jovens pensou em ser professor, mas desistiu
Ilustrações: Mario Kanno
O estudo indica ainda que a docência não é abandonada logo de cara no processo de escolha profissional. No total, 32% dos estudantes entrevistados cogitaram ser professores em algum momento da decisão. Mas, afastados por fatores como a baixa remuneração (citado nas respostas por 40% dos que consideraram a carreira), a desvalorização social da profissão e o desinteresse e o desrespeito dos alunos (ambos mencionados por 17%), acabaram priorizando outras graduações. O resultado é que, enquanto Medicina e Engenharia lideram as listas de cursos mais procurados, os relativos à Educação aparecem bem abaixo (leia os gráficos na página ao lado). 
Um recorte pelo tipo de instituição dá mais nitidez a outra face da questão: o tipo de aluno atraído para a docência. Nas escolas públicas, a Pedagogia aparece no 16º lugar das preferências. Nas particulares, apenas no 36º. A diferença também é grande quando se consideram alguns cursos de disciplinas da Escola Básica. Educação Física, por exemplo, surge em 5º nas públicas e 17º nas particulares. "Essas informações evidenciam que a profissão tende a ser procurada por jovens da rede pública de ensino, que em geral pertencem a nichos sociais menos favorecidos", afirma Bernardete. De fato, entre os entrevistados que optaram pela docência, 87% são da escola pública. E a grande maioria (77%), mulheres.
O perfil é bastante semelhante ao dos atuais estudantes de Pedagogia. De acordo com o Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade) de Pedagogia, 80% dos alunos cursaram o Ensino Médio em escola pública e 92% são mulheres. Além disso, metade vem de famílias cujos pais têm no máximo a 4ª série, 75% trabalham durante a faculdade e 45% declararam conhecimento praticamente nulo de inglês. E o mais alarmante: segundo estudo da consultora Paula Louzano, 30% dos futuros professores são recrutados entre os alunos com piores notas no Ensino Médio. O panorama desanimador é resumido por Cláudia*, aluna de escola pública em Feira de Santana, a 119 quilômetros de Salvador: "Hoje em dia, quase ninguém sonha em ser professor. Nossos pais não querem que sejamos professores, mas querem que existam bons professores. Assim, fica difícil".
Fonte: