Nos últimos anos, tornou-se comum a noção de que
cada vez menos jovens querem ser professores. Faltava dimensionar com mais
clareza a extensão do problema. Um estudo encomendado pela Fundação Victor
Civita (FVC) à Fundação Carlos Chagas (FCC) traz dados concretos e
preocupantes: apenas 2% dos estudantes do Ensino Médio têm como primeira opção
no vestibular graduações diretamente relacionadas à atuação em sala de aula -
Pedagogia ou alguma licenciatura (leia o gráfico abaixo).
Uma profissão desvalorizada
Só 2% dos entrevistados pretendem cursar Pedagogia
ou alguma Licenciatura, carreiras pouco cobiçadas por alunos das redes pública
e particular
Fonte: Pesquisa Atratividade da Carreira Docente no
Brasil (FVC/FCC)
A pesquisa, que ouviu 1.501 alunos de 3º ano em 18
escolas públicas e privadas de oito cidades, tem patrocínio da Abril Educação,
do Instituto Unibanco e do Itaú BBA e contou ainda com grupos de discussão para
entender as razões da baixa atratividade da carreira docente. Apesar de
reconhecerem a importância do professor, os jovens pesquisados afirmam que a
profissão é desvalorizada socialmente, mal remunerada e com rotina desgastante (leia
as frases em destaque).
"Se por acaso você comenta com alguém que vai
ser professor, muitas vezes
a pessoa diz algo do tipo: 'Que pena, meus
pêsames!'"
Thaís*, aluna de escola particular em Manaus, AM
Thaís*, aluna de escola particular em Manaus, AM
"Se eu quisesse ser professor, minha família
não ia aceitar, pois investiu em mim. É uma profissão que não dá futuro."
André*, aluno de escola particular em Campo Grande,
MS
* Os nomes dos alunos entrevistados foram alterados
para preservar a confidencialidade da pesquisa.
O Brasil já experimenta as consequências do baixo interesse pela docência.
Segundo estimativa do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais
Anísio Teixeira (Inep), apenas no Ensino Médio e nas séries finais do Ensino
Fundamental o déficit de professores com formação adequada à área que lecionam
chega a 710 mil (leia o gráfico ao lado). E não se trata de falta de vagas.
"A queda de procura tem sido imensa. Entre 2001 e 2006, houve o
crescimento de 65% no número de cursos de licenciatura. As matrículas, porém,
se expandiram apenas 39%", afirma Bernardete Gatti, pesquisadora da
Fundação Carlos Chagas e supervisora do estudo. De acordo com dados do Censo da
Educação Superior de 2009, o índice de vagas ociosas chega a 55% do total
oferecido em cursos de Pedagogia e de formação de professores.
Faltam bons candidatos
A baixa procura contrasta com a falta de docentes
com formação adequada
Fontes: Inep e Censo da Educação Superior (2004 e
2008)
Um terço dos jovens pensou em ser professor, mas desistiu
Ilustrações: Mario Kanno
O estudo indica ainda que a docência não é
abandonada logo de cara no processo de escolha profissional. No total, 32% dos
estudantes entrevistados cogitaram ser professores em algum momento da decisão.
Mas, afastados por fatores como a baixa remuneração (citado nas respostas por
40% dos que consideraram a carreira), a desvalorização social da profissão e o
desinteresse e o desrespeito dos alunos (ambos mencionados por 17%), acabaram
priorizando outras graduações. O resultado é que, enquanto Medicina e
Engenharia lideram as listas de cursos mais procurados, os relativos à Educação
aparecem bem abaixo (leia os gráficos na página ao lado).
Um recorte pelo tipo de instituição dá mais nitidez
a outra face da questão: o tipo de aluno atraído para a docência. Nas escolas
públicas, a Pedagogia aparece no 16º lugar das preferências. Nas particulares,
apenas no 36º. A diferença também é grande quando se consideram alguns cursos
de disciplinas da Escola Básica. Educação Física, por exemplo, surge em 5º nas
públicas e 17º nas particulares. "Essas informações evidenciam que a
profissão tende a ser procurada por jovens da rede pública de ensino, que em
geral pertencem a nichos sociais menos favorecidos", afirma Bernardete. De
fato, entre os entrevistados que optaram pela docência, 87% são da escola
pública. E a grande maioria (77%), mulheres.
O perfil é bastante semelhante ao dos atuais estudantes de Pedagogia. De acordo com o Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade) de Pedagogia, 80% dos alunos cursaram o Ensino Médio em escola pública e 92% são mulheres. Além disso, metade vem de famílias cujos pais têm no máximo a 4ª série, 75% trabalham durante a faculdade e 45% declararam conhecimento praticamente nulo de inglês. E o mais alarmante: segundo estudo da consultora Paula Louzano, 30% dos futuros professores são recrutados entre os alunos com piores notas no Ensino Médio. O panorama desanimador é resumido por Cláudia*, aluna de escola pública em Feira de Santana, a 119 quilômetros de Salvador: "Hoje em dia, quase ninguém sonha em ser professor. Nossos pais não querem que sejamos professores, mas querem que existam bons professores. Assim, fica difícil".
O perfil é bastante semelhante ao dos atuais estudantes de Pedagogia. De acordo com o Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade) de Pedagogia, 80% dos alunos cursaram o Ensino Médio em escola pública e 92% são mulheres. Além disso, metade vem de famílias cujos pais têm no máximo a 4ª série, 75% trabalham durante a faculdade e 45% declararam conhecimento praticamente nulo de inglês. E o mais alarmante: segundo estudo da consultora Paula Louzano, 30% dos futuros professores são recrutados entre os alunos com piores notas no Ensino Médio. O panorama desanimador é resumido por Cláudia*, aluna de escola pública em Feira de Santana, a 119 quilômetros de Salvador: "Hoje em dia, quase ninguém sonha em ser professor. Nossos pais não querem que sejamos professores, mas querem que existam bons professores. Assim, fica difícil".
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