Quando se fala ensino-aprendizagem, se expressa um processo, que está
intimamente vinculado ao ato de ensinar e ao ato de aprender. De um lado quem
ensina, do outro quem aprende. Vários teóricos estudaram e ainda estudam os
processos, que caracterizam o ensino-aprendizagem. Escreveram livros e mais
livros tentando explicar este fenômeno, sempre procurando descortinar novas
teorias e novos caminhos para melhor compreendê-lo.
Pode-se questionar. O que é ensinar? O
que é aprender? Neste contexto não se pretende esgotar tal fenômeno, porém
suscitar curiosidades, questionamentos em torno do assunto. Gostaria, todavia
de explicitar o pensamento de maneira sintética sobre o tema. Ensinar
compreende-se como o processo vivenciado por um professor, aquele que domina
com a sua experiência - teórica e prática, uma determinada área do conhecimento
e tem toda responsabilidade de motivar e incentivar e incentivar o processo de
aprendizagem. Aprender entende-se que é processo pelo qual o indivíduo aprende
e apreende um conhecimento ou uma habilidade. Considera-se, ainda, neste
processo a base psicológica e biológica, onde
ele assenta-se. O sujeito durante o ciclo vital tem o momento
psicológico e biológico, que lhe torna ou faz capaz de condicioná-lo a um
determinado nível de aprendizado.
Os professores devem estar atentos para
o processo ensino-aprendizagem colocando-se no seu contexto como um sujeito
catalisador da reação do desenvolvimento do ensino-aprendizagem. Este processo
pedagógico, não ocorre isoladamente, contempla dimensões: sócio-políticos,
humanas e técnicas, que extrapolam o seu próprio âmbito, uma vez que, não se
limita apenas, aquele momento exclusivamente ocorrido em sala de aula, entre
professor e aluno. Vai muito além desta relação, alcançando e fazendo presente
a ele, a realidade social histórica, concreta e localizada dos sujeitos
envolvidos na ação pedagógica,que se pretende realizar.
Os estudiosos da educação costumam separar, como se observa, o professor
com suas funções, do aluno, aprendiz, com suas tarefas e obrigações, como se
eles fossem distintos ou diferentes e não pertencessem ao mesmo momento
pedagógico; todavia se constata na prática, que não existe esta dicotomia, mas
sim, uma ação única integrada, holística, onde não há divisas de partes e
seguimentos isolados, porém a síntese de um processo ensino aprendizagem
globalizante.
Portanto, o processo ensino aprendizagem
diante desta visão aqui exposta, apresenta três dimensões bem nítidas:
Social-Política, Humana e Técnica. Cada uma desta dimensão não está
compartimentalizada uma da outra, porém numa constante interação, participando
do mesmo fenômeno, coexistindo no mesmo momento. A postura docente, o como
ensinar, o como o professor relacionar-se pedagogicamente com seus alunos, são
nestes comportamentos adotados e transparentes onde estão entrelaçadas todas as
dimensões do processo ensino aprendizagem, quando se pode identificar
claramente, em que tendência pedagógica encontra-se o professor inserido.
Diversos estudiosos da educação, através da história e hoje, procuram com suas
teorias cada vez mais, identificarem as ações e posturas pedagógicas dos
professores no cotidiano de sala de aula e de acordo com a ideologia
predominante no processo ensino aprendizagem, desenvolvido por eles, caracterizam-no
pedagogicamente, de liberal ou progressista.
Feita esta alusão sobre o processo
ensino aprendizagem, indaga-se: O que seria o ato educativo neste contexto?
Esta resposta daria livros e mais livros, pois o ato educativo não se
relaciona somente ao processo ensino aprendizagem em si,
realizado comumente pelas instituições de ensino, mas ultrapassa as fronteiras
do formal de sala de aula e de suas quatro paredes, indo interferir na
realidade social, concreta e contextualizada dos sujeitos, participantes dele.
Dermeval Saviani, nos diz que no ato
educativo seus sujeitos sociais, professor, aluno e sociedade participam dele,
cada um assumindo um papel relevante, sem que seja possível verificar onde
termina e enceta-se a ação do outro. Para melhor compreensão didática, se
escreve separadamente. Vejamos: Professor, no ato educativo será aquele que detém mais experiência para
iniciar o processo pedagógico como também é capaz de aliar a sua prática social
a prática pedagógica. O aluno é aquele que no início do ato
educativo detém menor experiência, porém terá potencial para alcançar o
professor e até superá-lo. A sociedade é o "locus" em
que acontece todas as relações sociais e deverá ocorrer a verdadeira
intervenção provocada pelo processo educativo.
O ato educativo, conforme Saviani,
possui cinco (5) passos. São eles: O primeiro será a PRÁTICA SOCIAL, onde se inicia o ato educativo e sujeitos sociais
estabelecem suas relações. Os sujeitos refletem sua maneira de sentir, pensar e
agir na sociedade de acordo com as relações sociais que estabelecem e ainda,
conforme se inserem no modo de produção desta sociedade a que pertencem. Isto
determina sua maneira de interferir sobre sua realidade. O segundo passo é
chamado de PROBLEMATIZAÇÃO, aqui os
sujeitos tomam consciência dos problemas existentes, verificam as carências e
as prioridades a serem estabelecidas. Descortinam sua realidade. O terceiro
passo é INSTRUMENTALIZAÇÃO, de posse
do conhecimento da realidade percebe-se que tipos de conteúdos, métodos e técnicas
dominar para, interferir na problemática da realidade levantada. O quarto
momento é denominado de CATARSE. È a
culminância do ato educativo, ele ocorre, quando os sujeitos envolvidos no
processo educativo conseguem através daquela apropriação do saber aprendido e
apreendido no processo, interferir e multiplicar o ato educativo em sua
realidade transformando-a. O quinto momento é a PRÁTICA SOCIAL, o que foi o ponto de partida terá que ser o ponto de chegada, todavia a
prática, aqui descrita não é a prática
pela prática, mas sim a prática enquanto "PRAXIS",
portanto a realidade dos sujeitos sociais
do ato educativo não é mais a mesma, porque há, no concreto, uma
transformação social nas relações, que os sujeitos estabelecem no seu meio,
conseguindo modificà-lo.
Concluindo, constata-se, pelo que foi
dito, que nem todo processo de ensino aprendizagem constitui-se em um pleno e verdadeiro ato
educativo. O processo de ensino-aprendizagem pode converter-se em um mero
instrumento de acomodação do sujeito que aprende, ao seu ambiente social,
político e técnico, sem, no entanto intervir na realidade contextual existente.
O ato educativo, como preconiza Dermeval Saviani, ao qual pensamento
concorda-se e acosta-se o nosso, ao contrário, leva necessariamente a uma
transformação das relações sociais dos sujeitos participantes do ato educativo,
pela interferência que seus reflexos provocam em uma sociedade. Nesta
compreensão, o ato educativo, tem sua ótica não só voltada para a formação,
mas, sobretudo também, intenciona construir o homem integral radical.
BIBLIOGRAFIA
LIBANÊO, José Carlos. Democratização da Escola Pública. A pedagogia crético-social dos conteúdos
São Paulo - Brasil: Ed. Loyola. 2005.
SAVIANI, Dermeval. Escola e Democracia. Col. Polêmicas do Nosso Tempo. 2ª ed. São Paulo-2000
KUETHE, James L. O Processo Ensino Aprendizagem. Porto Alegre: Ed. Globo, 2000.