“Da destruição surge um sonho: uma pequena escola”.
Era o fim da Segunda Guerra Mundial. Tempos
terríveis; para todo lado que se olhava, a única coisa que se enxergava era
destruição, fome, ruínas e pobreza. A guerra acabou, mas não tirou a dor dos
que ali viviam. O que esperar dessas pessoas que ficaram olhando toda aquela
devastação? E os sentimentos de derrota, medo e indignações?Foi neste espírito
de derrota em meio à destruição que muitas mães de uma pequena cidade italiana
– Reggio Emília – sonharam um mundo melhor para seus filhos: uma escola!
Em uma terra doada por um fazendeiro, foi lançada a
semente desse sonho. Juntas, aquelas mães venderam um tanque de guerra e os
cavalos deixados para trás pelos soldados, mas não era suficiente. Todos os
recursos que elas tinham estavam em seus arredores, ou seja, nada é o que
normalmente pensamos. Pois essas mães visionárias retiraram desse nada tudo o
que precisavam para consolidar esse sonho. Das casas bombardeadas foram
retirados os tijolos e vigas. O rio também contribuiu, doando de seu leito a
areia; e os sobreviventes da guerra ajudaram trabalhando noite e dia para a
construção de uma escola para crianças pequenas. E a semente do sonho foi
lançada no terreno doado pelo fazendeiro.
O maior ensinamento que passaram a seus filhos foi
o de reconstruir a partir das ruínas em que, aparentemente, encontravam-se suas
vidas. Esse é o verdadeiro sentido de coletividade e união para se alcançar um
objetivo – e nesse espírito a escola foi formada e estruturada. Todos
participam e contribuem: os pais, os comerciantes e a sociedade.
Essa escola é inovadora: os pais fazem parte da
escola, ajudam no planejamento e até participam de algumas aulas. Os eventos
são organizados pelas famílias, professores e alunos, com o objetivo de
integração e coletividade, mostrando a essas crianças que a escola é uma
continuidade de seu lar, tornando-as uma grande família e intensificando o
papel sócio-cultural que ela ocupa na sociedade.
Um dos aspectos que mais chamam a atenção é a
abordagem de ensino que adotaram na escola. Usa a linguagem da Arte – que é
inerente na criança – para extrair seus pensamentos, desejos, inquietações, e
ajudar a dar significados e sentido ao mundo em que vivem, e suas questões.
Após esta coleta de informações fornecidas pelas crianças, pais e professores
se reúnem e elaboram o planejamento das aulas.
Essas crianças passam a pesquisar o tema, vão às
ruas observar, investigar, experimentar e depois voltam à escola para se
expressar da melhor forma que sabem, por meio de símbolos artísticos, como
desenho, esculturas, pintura, etc. As atividades são exploradas ao máximo, até
que a criança se dê por satisfeita. Quando elas não conseguem se expressar como
gostariam, são encorajadas a refletir e recomeçar. Assim como aconteceu com
aquelas mães logo após a guerra!
Essas crianças têm se mostrado tão criativas e
competentes que já existem exposições pelo mundo afora com suas produções
artísticas. Suas competências não são exploradas apenas no mundo da arte, muito
pelo contrário; a arte é o meio que os professores usam para introduzir outros
conhecimentos.
A abordagem da Escola Reggio Emília mostrou sua
eficácia e se multiplicou dentro da cidade. Hoje este município adotou essa
abordagem em suas escolas. Essa eficácia se revelou ao mundo e tem se propagado
por ele. Já existem diversas escolas nos Estados Unidos e Europa: infelizmente
não sei de nenhuma escola no Brasil que use essa abordagem.
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