As novas
pedagogias vêm se afirmando a partir de uma mudança de foco: concentram-se em
torno do processo de aprendizagem, contrapondo-se às pedagogias tradicionais
que se organizavam centradas no processo de ensino. O protagonista passou a ser
o aluno, em lugar do professor. Tendo sido esse o mote da Escola Nova, ele ganha
força novamente com o caráter
Hegemônico que tomou o construtivismo.
E, em que pese a contribuição do interacionismo e do sócio-interacionismo para
a Educação, não se pode ignorar o grande problema gerado pela disseminação da
falácia: ninguém ensina nada a ninguém.No caso do ensino superior, sendo a pesquisa
um de seus tripés, o ensino por meio dela deve lá estar by default! Mas isto
não invalida a possibilidade da transmissão. Nas grandes universidades do
Primeiro Mundo, os expoentes das diferentes áreas pronunciam.
Aulas Magnas
em grandes auditórios para o maior número possível de estudantes: ali são compartilhadas
as sínteses de conhecimentos construídos em uma vida de pesquisa
acadêmico-científica. É bem verdade que os alunos se distribuem depois, em
pequenos grupos, para um trabalho mais detalhado, sob a orientação dos
professores assistentes (TAs). Mas, é um privilégio estar ali presente e ouvir
a fala de luminares, entre os quais pude ouvir e aplaudir, certa feita, juntamente
com uma seleta platéia, nosso querido Paulo Freire. E é claro que ele lá não estava
a fazer “depósitos bancários” em nossas cabeças (e a expressão é dele mesmo):
estava a fertilizá-las com as suas experiências e reflexões, e a cada um de nós
cumpria a tarefa de trabalhar toda aquela matéria prima amalgamando-a com o
nosso respectivo background. Cada ouvinte se apropriava daquela mensagem,
processando aquele material com os recursos de suas27 experiências prévias e de
sua capacidade de reflexão. A isto também chamamos de construção de
conhecimento. LEITE (1994) aborda de maneira interessante a questão do conhecimento
como processo e como produto. Entretanto, é preciso não assumir uma postura
maniqueísta que coloca o conhecimento/produto numa extremidade, a do mal,
marcada pelo positivismo, pelas pedagogias retrógradas, pelo imobilismo.
Conhecimento é processo sim, e é bom compreender a sua historicidade, mas
necessariamente ele se transforma em produto, em arcabouço científico-cultural,
cuja transmissão, espera-se, deve ser, sim, da responsabilidade de professor/escola/universidade.
Não se pode avançar no conhecimento sem que se saiba o que foi produzido
naquela área, até aquele momento. Einstein não teria formulado a teoria da
relatividade sem o conhecimento prévio das teorias científicas que o
antecederam, embora o tenha feito no vácuo deixado por elas (KUHN, 1992). Certa
vez ouvi, no auditório da Faculdade de Educação da UFMG, o insigne filósofo
Roberto Romano discorrer sobre o fantástico trabalho de reconstrução da
Matemática por que passam as mentes dos estudantes, quando acompanham, passo a
passo, a demonstração por seu professor, no quadro-negro, de um teorema de
Pitágoras, por exemplo. Afinal, não se pode negar o poder da fala, da
comunicação– apanágio da espécie humana. E não me limito às grandes
performances: aulas expositivas, quando bem conduzidas, considerando as
experiências prévias dos alunos desempenham papel importante ao proporcionar
uma visão global inicial dos assuntos, ao possibilitar a solução de dúvidas, ao
integrar os conteúdos trabalhados proporcionando o surgimento da gestalt - a
estruturação do campo em estudo. O bom professor deve ser um pesquisador do seu
campo teórico e, ao mesmo tempo, ser capaz de “transmitir” – sem qualquer
conotação pejorativa - a seus alunos, esse conhecimento acumulado que é a sua
própria síntese até aquele momento. Isto não significa que essa síntese deva se
cristalizar: ela pode evoluir ou até mesmo se negar, mas o que vige para ele
até então, o bom professor deve ser capaz de ensinar. Com28isto não estou
minimizando a importância das mídias e das webs na disseminação das
informações, que hoje atingem um montante indescritível. Mas, o que se espera
de um professor universitário, além de uma orientação para a pesquisa, é que
ele seja também capaz de auxiliar os alunos na transformação das informações em
conhecimento. Embora hoje se fale muito em rede, em substituição aos
pré-requisitos para o conhecimento, uma importante tarefa do professor é auxiliar
na estruturação dos campos teóricos. Infelizmente, há “exposições” e “exposições”,
“professores” e “professores”...
Fonte: Coleção
didática e Prática de ensino- Convergências e tensões no campo da formação e do
trabalho docente.