Para pensar

A alienação de que fala Marx é conseqüência do afastamento entre os interesses do trabalhador e aquilo que ele produz. De modo mais amplo, trata-se também do abismo entre o que se aprende apenas para cumprir uma função no sistema de produção e uma formação que realmente ajude o ser humano a exercer suas potencialidades. Você já pensou se a educação, como é praticada a seu redor, procura dar condições ao aluno para que se desenvolva por inteiro ou se responde apenas a objetivos limitados pelas circunstâncias?

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

ENSINAR E APRENDER:


As novas pedagogias vêm se afirmando a partir de uma mudança de foco: concentram-se em torno do processo de aprendizagem, contrapondo-se às pedagogias tradicionais que se organizavam centradas no processo de ensino. O protagonista passou a ser o aluno, em lugar do professor. Tendo sido esse o mote da Escola Nova, ele ganha força novamente com o caráter
Hegemônico que tomou o construtivismo. E, em que pese a contribuição do interacionismo e do sócio-interacionismo para a Educação, não se pode ignorar o grande problema gerado pela disseminação da falácia: ninguém ensina nada a ninguém.No caso do ensino superior, sendo a pesquisa um de seus tripés, o ensino por meio dela deve lá estar by default! Mas isto não invalida a possibilidade da transmissão. Nas grandes universidades do Primeiro Mundo, os expoentes das diferentes áreas pronunciam.
Aulas Magnas em grandes auditórios para o maior número possível de estudantes: ali são compartilhadas as sínteses de conhecimentos construídos em uma vida de pesquisa acadêmico-científica. É bem verdade que os alunos se distribuem depois, em pequenos grupos, para um trabalho mais detalhado, sob a orientação dos professores assistentes (TAs). Mas, é um privilégio estar ali presente e ouvir a fala de luminares, entre os quais pude ouvir e aplaudir, certa feita, juntamente com uma seleta platéia, nosso querido Paulo Freire. E é claro que ele lá não estava a fazer “depósitos bancários” em nossas cabeças (e a expressão é dele mesmo): estava a fertilizá-las com as suas experiências e reflexões, e a cada um de nós cumpria a tarefa de trabalhar toda aquela matéria prima amalgamando-a com o nosso respectivo background. Cada ouvinte se apropriava daquela mensagem, processando aquele material com os recursos de suas27 experiências prévias e de sua capacidade de reflexão. A isto também chamamos de construção de conhecimento. LEITE (1994) aborda de maneira interessante a questão do conhecimento como processo e como produto. Entretanto, é preciso não assumir uma postura maniqueísta que coloca o conhecimento/produto numa extremidade, a do mal, marcada pelo positivismo, pelas pedagogias retrógradas, pelo imobilismo. Conhecimento é processo sim, e é bom compreender a sua historicidade, mas necessariamente ele se transforma em produto, em arcabouço científico-cultural, cuja transmissão, espera-se, deve ser, sim, da responsabilidade de professor/escola/universidade. Não se pode avançar no conhecimento sem que se saiba o que foi produzido naquela área, até aquele momento. Einstein não teria formulado a teoria da relatividade sem o conhecimento prévio das teorias científicas que o antecederam, embora o tenha feito no vácuo deixado por elas (KUHN, 1992). Certa vez ouvi, no auditório da Faculdade de Educação da UFMG, o insigne filósofo Roberto Romano discorrer sobre o fantástico trabalho de reconstrução da Matemática por que passam as mentes dos estudantes, quando acompanham, passo a passo, a demonstração por seu professor, no quadro-negro, de um teorema de Pitágoras, por exemplo. Afinal, não se pode negar o poder da fala, da comunicação– apanágio da espécie humana. E não me limito às grandes performances: aulas expositivas, quando bem conduzidas, considerando as experiências prévias dos alunos desempenham papel importante ao proporcionar uma visão global inicial dos assuntos, ao possibilitar a solução de dúvidas, ao integrar os conteúdos trabalhados proporcionando o surgimento da gestalt - a estruturação do campo em estudo. O bom professor deve ser um pesquisador do seu campo teórico e, ao mesmo tempo, ser capaz de “transmitir” – sem qualquer conotação pejorativa - a seus alunos, esse conhecimento acumulado que é a sua própria síntese até aquele momento. Isto não significa que essa síntese deva se cristalizar: ela pode evoluir ou até mesmo se negar, mas o que vige para ele até então, o bom professor deve ser capaz de ensinar. Com28isto não estou minimizando a importância das mídias e das webs na disseminação das informações, que hoje atingem um montante indescritível. Mas, o que se espera de um professor universitário, além de uma orientação para a pesquisa, é que ele seja também capaz de auxiliar os alunos na transformação das informações em conhecimento. Embora hoje se fale muito em rede, em substituição aos pré-requisitos para o conhecimento, uma importante tarefa do professor é auxiliar na estruturação dos campos teóricos. Infelizmente, há “exposições” e “exposições”, “professores” e “professores”...
Fonte: Coleção didática e Prática de ensino- Convergências e tensões no campo da formação e do trabalho docente.