O saber-fazer, as artes dos mestres da
educação do passado deixaram suas marcas na prática dos educadores e das
educadoras de nossos dias. Esse saber-fazer e suas dimensões ou traços mais
permanentes sobrevivem em todos nós. O conviver de gerações, o saber acompanhar
e conduzir a infância em seus processos de socialização, formação e
aprendizagem, a perícia dos mestres não são coisas do passado descartadas pela
tecnologia, pelo livro didático, pela informática ou pela administração de
qualidade total. A perícia dessas artes poderia ter sido substituída por
técnicas, entretanto nem os tempos da visão mais tecnicista conseguiram apagar
estas artes, nem os novos tempos das novas tecnologias, da TV, da informática
aplicada à educação conseguirão prescindir da perícia dos mestres. Educar
incorpora as marcas de um ofício e de uma arte, aprendida no diálogo de
gerações. O magistério incorpora perícia e saberes aprendidos pela espécie
humana no longo de sua formação.
Muitos saberes de muitos ofícios foram
destruídos pela industrialização, pelo avanço das máquinas, da tecnologia, da
incorporação do saber operário e do seu controle. Processos tensos de
eliminação dos ofícios e dos artífices... Processos históricos de expropriação
do saber operário. Mas foi eliminado mesmo o saber dos trabalhadores ou houve
resistências e re-apropriações? Esse saber coletivo se afirmou como um saber de
classe e de categorias. Os trabalhadores construíram nesses embates um saber
próprio. Sabem mais, construíram sua nova identidade e seu novo orgulho. No
campo da educação, da socialização, do desenvolvimento e formação humana esses
processos seguiram o mesmo caminho? Esta é a questão que nos persegue. O que
ficou em nós do velho ofício do magistério?
Escolher o termo “ofício de mestre” sugere
que apostamos em que a categoria mantém e reproduz a herança de saber
específico. Sem deixar de reconhecer pressões, embates nessa direção e também
resistências às tentativas de administração gerencial, de expropriação do saber
profissional dos professores através da organização parcelar do trabalho. Como
ignorar esses embates no campo da educação? Como não perceber que o saber-fazer
de mestre teve alterações profundas com as tentativas de incorporação desses
processos “racionais” na gestão dos sistemas de ensino, na organização e
divisão do trabalho?
Um olhar apenas centrado na história das
políticas, das normas e dos regimentos, da divisão gradeada e disciplinar do
currículo e do trabalho, da incorporação dos especialistas, da separação entre
os que decidem os que pensam e o que fazem nos levará fácil e precipitadamente
a concluir pela eliminação de qualquer das tradicionais dimensões e traços do
ofício de mestre. Mas cabem outros olhares que pretendam ser mais totalizantes
para perceber que os traços mais definidores de toda ação educativa resistiram
e perduram. Há uma resistente cultura docente.
O trabalho e a relação educativa que se dá na sala de aula e no convívio entre educadores (as) /educandos (as) traz ainda as marcas da especificidade da ação educativa. A escola e outros espaços educativos ainda dependem dessa qualidade. As tentativas de racionalização empresarial não conseguiram tornar essa qualificação dispensável. Além do mais, para que substituir uma escola centrada nas relações interpessoais e em processos e saberes artesanais, por uma escola centrada na racionalidade empresarial, na desqualificação do trabalho, se o trabalho qualificado dos mestres é tão barato?
O trabalho e a relação educativa que se dá na sala de aula e no convívio entre educadores (as) /educandos (as) traz ainda as marcas da especificidade da ação educativa. A escola e outros espaços educativos ainda dependem dessa qualidade. As tentativas de racionalização empresarial não conseguiram tornar essa qualificação dispensável. Além do mais, para que substituir uma escola centrada nas relações interpessoais e em processos e saberes artesanais, por uma escola centrada na racionalidade empresarial, na desqualificação do trabalho, se o trabalho qualificado dos mestres é tão barato?
Conversar sobre o ofício de mestre tem
ainda outra motivação: é entre nós e sobre nós que conversamos em tantos
encontros, congressos e conferências, em tantas tentativas coletivas de
construir a escola e de nos construirmos como profissionais. Por todo lado e a
qualquer pretexto, se inventam encontros, mais da categoria do que oficiais.
Encontros onde o olhar é sobre a prática, o fazer e pensar educativo, sobre os
projetos de escola, sobre as áreas do conhecimento, sobre as condições de
trabalho, salariais, de carreira, de estabilidade. Sobre nossa condição e
identidade coletiva.
Fonte: http://pt.shvoong.com